ESPELHO
Essas lâminas perfiladas
que deslizavam oblíquas
e suaves sobre um macio
tegumento ao amanhecer
(maciez aveludada
das pétalas orvalhadas)
Encontram agora a aspereza
dos sulcos cravados
na existência dos dias
e no reflexo em minha face.
(Fico perplexo pelo tempo
que passou em mim)
Permaneço emudecido
ante ao espelho a buscar
uma simples compreensão
dos caminhos já percorridos.
(desejo, labor, paixão e amor)
A esposa que do box
pede uma toalha,
o filho que na sala
reclama da ausência
e o celular que alerta
o compromisso do dia,
amenizam a minha
perplexidade.
Imagem: René Magritte, “A reprodução proibida”, 1937.