TESSITURAS DAS NOITES
Há camadas
disfarçadas
no tecido que veste
as madrugadas.
Espessura da noite,
essa matéria
que reveste os corações,
até mesmo
dos desabrigados,
por todos os lugares,
longínquos
ou tão íntimos.
Tessituras
de aventuras à galope,
rompendo os medos,
buscando as alegrias
oníricas do existir.
Ao anoitecer, Vênus
brilha não cintilante
no horizonte
e nos acompanhará
noite adentro.
A Estrela D’alva
aquece-nos
com suas vestes
do amor.
O sol estará mais
profundamente,
adiante, a reluzir vida
enquanto a escuridão
lentamente esmaece.
Surgem os primeiros
tilintares das vasilhas
sobre o fogão.
A porta range
quebrando o silêncio
do orvalho no jardim.
Dimensiona-se os ruídos
dos primeiros passos,
em casa e na calçada
que se alonga,
tangenciando as janelas
das casas e dos quartos
ainda fechadas.
A potência dos motores
deslizam nas ruas
e a medida que avançam,
buscando destinos,
suavizam seus ruídos.
Outros aceleram
e seguem.
Assim, a espessura
da noite vai lentamente
se desfazendo.
A vida
que tem tantas
madrugadas,
é esse continuo
acordar diário.
(Imagem: Noite estrelada, Van Gogh)