Brincando de fazer poesia em 1975: lembranças do velho Kennedy

Fuçando em arquivos antigos, encontrei um poema que escrevi quando fazia o colegial no Instituto de Educação Estadual Presidente Kennedy (IEEPK) em Americana (SP), nos idos de 1975. Lembrei-me daqueles bons tempos, da boa qualidade de ensino e dos muitos bons professores que tive; foram muitos, muitos mesmo. Lembrei-me em particular do professor Wilson Camargo (português, literatura etc.), que primava pela didática impecável e pela imensa erudição. Hoje, eu avalio que construí, naqueles tempos, naquela escola, uma base sólida de conhecimentos que serviu como salvo conduto (ainda serve) na minha caminhada intelectual mundo afora. Só tenho agradecimentos. Segue a história do poema.

 

Depois de uma aula de filosofia (acho que era filosofia, faz muito tempo...) do terceiro colegial no velho Kennedy eu escrevi um poema, reportando-me ao assunto da aula; acredito que, com os parcos recursos teórico-filosóficos que dispunha naquela época, apesar de ser um bom aluno e um ávido leitor sobre os mais variados assuntos, consegui expressar-me sobre o lado utilitarista e neurótico das relações humanas, que pode ser estremado em determinadas circunstâncias.

 

A aula havia tratado da subjetividade dos valores. Era mais ou menos assim, bem simples: tem valor aquilo que é útil, aquilo que satisfaz uma necessidade (física ou psíquica); quando um objeto desejado torna-se difícil de ser alcançado, seu valor tende a aumentar, podendo, inclusive, tornar-se uma obsessão, uma doença, e isso pode produzir consequências funestas. É disso que fala o poema, que fiz por pura brincadeira nos idos de 1975 ao final de uma aula.

 

Em homenagem ao Kennedy, aos professores e aos alunos, meus inesquecíveis colegas de caminhada daqueles tempos (como esquecê-los?), vamos ao poema:

 

TEORIA DOS VALORES

 

João gostava de Maria,

portanto uma necessidade Maria era

ao psiquismo joanino.

Se necessária era,

alguma coisa ela valia.

João precisava dos valores de Maria,

para reencontrar o perdido do equilíbrio

ou o equilíbrio do perdido.

 

Mas Maria indiferente

não percebia a não indiferença

do desequilibrado João.

 

João desesperou-se,

tinha que preencher esse vazio;

valorizou-se de cachaça,

valeu-se de um revolver

e desvalorizou Maria.

 

João saiu desesperado, gritando

que a vida nada valia

e, desvalorizado,

meteu um tiro no ouvido.

 

Zildo Gallo - Americana (SP), 27 de agosto de 1975

 

PS.: Cursei o ginásio e o colégio no IEEPK, mas os quatro anos do curso primário eu cursei no Centro Educacional SESI 101, na Vila Frezarim (1964-1967). Tenho boas lembranças da minha turma, das professoras (Dona Zenaide e Dona Sônia) e, hoje, consigo avaliar como boa a qualidade do ensino que recebi naquela escola.