CABEÇAS SEM DÓ

Dores de cabeça entram em labirintos.

O tingimento ou o pente-fino não libertam os cabelos

e as sobrancelhas não podem ser perfeitas,

pois há uma queima no estoque de cílios postiços.

Mas dores de cabeça são tão puras que rolam.

Estão na cozinha, debaixo da escada,

no grude do chiclete no tapete.

E as bocas agora abrem de dor,

porque estão sem dentes,

sem outras bocas

e não mastigam somente

as folhas de alface das saladas.

Mas as dores de cabeça desabrocham.

Surgiram em relógios presentes após anos de engano

As dores estão às seis da tarde na saída do emprego

e inflamam tímpanos, a fornada dos pães e o crepúsculo.

Na verdade, as dores de cabeça surgem

como surgem ninhos vazios do João de Barro.

Dor como condição do que é abandono,

do que foi abrigo.

Mas haverá um dia

que apenas os joelhos arderão,

após a pancada recebida;

e a outra dor, dor de cabeça desamparada

não permanecerá como permanece hoje

latejando nos seus sete buracos.

Contudo, o nariz ainda sofrerá quando bater

na parede da sala escurecida.

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 30/08/2023
Reeditado em 30/01/2024
Código do texto: T7873574
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