O INDIE-GENTE
Na manhã da caminhada
Vejo sonhando com sua casa:
O indie-gente que dorme na calçada.
Ninguém sabe seu nome,
Nem o cão que late ao protegê-lo.
Sua dor não cheira ,
Não causa lágrima em face alheia.
Andarilhos e transeuntes passam,
O sol dança com a lua
Em voltas dos dias que se findam um dia.
No frio da madrugada
Por algum tempo,
Aquecido,
Dorme mais uma vez,
Esquecido,
Sonha ser feliz,
Entorpecido.
O cego e frio que lhe olha
Não vê, não sente.
Apatia resseca a pele,
Murcha a boca e cai o dente.
O medo da culpa se paga com esmola:
Com um real, dele se descola.
Será que paga meu céu
Se encho sua sacola?
Penso que sim,
Sigo cheio de mim,
Cego e alienado
Achando que dele passo ao largo.
A procissão passa em rezas
Clama a Deus todo poderoso
Que a justiça se faça,
Que a doença se cure,
Que a fome se acabe.
O indie-gente dorme,
Seu cão late,
A dor do outro não me dói.
E que a minha, Deus que acabe.
SIDÃO COUTO
11.07.23