Tudo é a(deus)
Na fronte viva surge a sombra da partida,
A morte nos vigia, como sombra à espreita.
Desponta em quieta névoa, calma e discreta,
Para, em silêncio, encerrar o alento de toda vida?!
A morte é fera que na sombra se esconde,
E traz consigo em mãos o fim do caminhar.
Mas morrer é também mistério a desvendar,
É um elo que a vida nem some e nem responde.
No fim da estrada, a morte me espreita,
Silente e paciente, a ceifar-me a sina.
É o encontro inevitável, essa vil partida,
É o adeus ao primeiro instante da nossa vida.
E, em meio ao breu, vislumbro um lampejo
De um sorriso breve, de um adeus sincero,
E o olhar sereno, leve como um beijo sagaz.
E o penúltimo olhar a tudo que de amar fui capaz!
E, ao contemplar e tocar a vida assim findada,
Parto-me, em versos, com a morte abraçada,
Vendo que o fugaz é eterno e o eterno é fugaz.
Derramando lágrimas e risos por esta breve jornada.
Mas, mesmo em meio à tanta sombra e ao breu,
Na morte vejo claro algo que a tudo transcende,
Quem sabe seja a luz que do vazio me estendeu,
Será que o ser viverá ou pra sempre morrerá, a(deus)!
Tal qual a chama cuja esperança nunca se apaga,
Enquanto o tempo, sempre insaciável, me afaga,
Legarei ao mundo esta verdade: “tudo é a(deus)”.
E agora o último sopro de vida e amor cai e se cala.