Eu, Raskolnikov, Carrego a Culpa
Criminoso sou, antes de cometer meus delitos
Tentei escamotear a culpa. Impossível.
Fui eu quem criou uma teoria de superioridade
Para amenizar o arrependimento no crânio.
Fui eu que na traição de qualquer dignidade
Deixou o chão manchado de vivo sangue.
Fui eu que assassinei alguém respeitável
E ateou fogo nos elos de confiança.
Eu, Raskolnikov, carrego a culpa no peito,
Sinto as dores espalhadas no corpo,
Projeto nos outros meus infortúnios,
Um fardo pesado que me faz curvar.
A sombra do crime, meu ego sempre suspeito,
Na névoa da consciência, sinto naufragar.
Caminho pelas ruas sem sentir plena paz.
A culpa, cruel, impiedosa, insaciável,
Encontro nos olhares de outras pessoas.
Na insônia das noites frias, silenciosas,
Meus pensamentos gritam
Um turbilhão de segredos, ecoam marcas
Que martelam os neurônios.
A teoria que ousei, as ações postas em prática,
A crença de estar acima da moral comum,
Fez a culpa me abraçar em soturno véu.
Os olhos marcados pelo remorso,
As mãos ainda sujas da noite do delito.
Meus passos assustados,
As lembranças que sussurram,
Não há refúgio nas sombras que me envolvem.
No peito aflito, os resquícios de meus vícios,
A culpa é o veredicto, a sentença que não some.
Carrego a culpa, o fantasma aterrador,
Memória que a cada dia avoluma infortúnios.