As águas do longo rio
Contemplo as águas deste longo rio,
Onde os mistérios se ocultam sob véu.
O brilho do Sol em um eterno estio
Reflete segredos ancestrais do céu.
Contemplo as águas, lá no horizonte,
Que fluem calmas, em curso sem fim,
Onde se espelha o céu, aves e o monte,
E as almas encontram paz em seu confim.
Contemplo as águas, mansa melodia,
Que canta em murmúrios ao ouvido meu,
Revelando histórias da antiguidade,
Os ecos do passado, saberes do breu.
Contemplo as águas, fonte da verdade,
Onde o mundo se reflete em seu espelho,
Na correnteza há e vive a força da saudade,
E a eterna busca por um alento vermelho.
Contemplo as águas, senhoras do destino,
Onde navegam sonhos, anseios e desespero,
Levando tantas vidas em tristes e solenes hinos,
Para o além do horizonte desconhecido e derradeiro.
Contemplo as águas no silêncio da noite,
Sobre a erva na serenidade do luar a brilhar,
E encontro no rio, na beleza desse açoite,
A inspiração para poder chorar e cantar.
Contemplo as águas do triste e longo rio,
Onde memórias se perdem num barco vadio,
Nas margens, sombras do passado sombrio,
E a saudade germina lágrimas por quem partiu.
Contemplo as águas do longo rio,
Em sua jornada para o oceano vasto,
Assim é a vida: um incógnito desafio,
Onde cada momento é um tesouro casto.
Contemplo as densas águas deste longo rio,
Onde navegantes partem duvidosos em desafio,
Em busca de sonhos por um destino desejado,
E nas correntezas os barcos à deriva estão lançados.
Contemplo as águas deste longo e antigo rio,
E, na cadência das águas, a vida segue e dança;
Em seu fluxo não há verdade ou desígnio metafísico,
E a toda hora nasce e morre uma simples esperança.
Contemplo as águas do longo e sábio rio,
Onde o infinito parece se fazer presente,
E, ao contemplar o seu curso perene e bravio,
Talvez eu seja parte de algo, eternamente.
Toco as profundas águas deste longo rio,
E vejo que todos nós somos meros viajantes.
Nessa jornada que é nosso acaso ou destino
Buscamos uma paz e bálsamo abundantes.