PORTEIRA

PORTEIRA

Atravessou a porteira pela vida inteira

E nem notou o quanto envelheceu

Porteira de madeira, agora castigada,

foi tanto maltratada... pelo tempo fustigada...

Ela não cedeu!

Dobradiças resistentes de ferro, potentes,

aguentaram o abre e fecha de gerações;

por ela passaram carros de boi gementes...

Cavaleiros imponentes, amazonas

e, finalmente, os caminhões

A estrada, sua fronteira,

perdeu-se na poeira de muitas ambições

O mangueiral sobranceiro, de doce manga-espada,

míngua triste enclausurado pelo canavial

Os pássaros nativos tornaram-se cativos

e o canto, dos que ficaram, entristeceu!

Os animais que viviam na floresta preservada

são troféus de caçada nas paredes, qual museu;

e a peãozada que ria e que valentias cantava

hoje virou bóia-fria, sem destino e sem morada!

A fumaça da usina deixa no céu um negrume

e o acre azedume impede o cheiro da flor

Um muro cerca os domínios do exaltado progresso

e a marca do sucesso exige grades, portões...

Então, a hora é chegada:

Com muita força e a machadadas, a porteira é destruída!

E quem ordenou tal ato descobre, tardiamente,

que em nome do presente...

Foi-se o encanto da vida!

Da Costa

dacosta
Enviado por dacosta em 27/07/2023
Código do texto: T7847191
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