A CURA DO TEMPO
A vida ,
na sua rebeldia
e cadência veloz,
sangra no tempo.
Sangra no tempo
da poesia
quando o poeta
enlouquece
à procura
de um fonema
qualquer.
Sangra na flor
que a esmo,
a cada manhã,
insiste em sorrir
tantas cores no jardim.
Na revoada das garças,
tingindo de liberdade
o céu azulado do sertão.
Sangra na chuva
que escorre do céu
e nos faz esperar.
Sangra na saudade
que nos faz buscar
o silêncio.
Na angústia da dor
que nos leva
ao encontro
da esperança.
A vida
sangra no tempo
quando a canção,
na sua viagem,
nos faz parar
para tragá-la.
O tempo nos sangra
nas brincadeiras
ao léu,
na conversa fiada
e no ócio imaginativo.
Sangra-nos
em busca de um amor
nas tardes dos verões
à beira-mar.
O tempo da arte
sangra a vida…
Para nos curar
e aliviar a existência
do intrínseco veneno.