ARRANJOS

Juntar o que se quebrou.

Preparar o reparo automático.

Restaurar o pneu

porque o negro da borracha assim permite.

E pensar:

o melhor sempre ocorre,

se eu definir ser esta regra

uma medida de perfeição,

uma questão do que é preciso.

O contrário, em oposição, puxa para baixo

e fere um coração esperançoso.

Mas vou colar os cacos do perdido.

Adicionar o sol ao dia frio.

Perdoar aquilo que já foi terrível,

tudo em busca do que será primoroso.

E não esquecerei,

o melhor sempre deve parecer óbvio,

pois o oposto incomoda.

Se eu pensar que poderia ser pior,

cessará a gratidão que vem

dos dias lindos e negros e azuis.

Não cuidar do que é bendito então.

Não montar o que está inacabado.

Deixar no infinito o exato

para morrer interrompido.

Não é assim que se pensa.

Pensarei então:

o pão nosso de cada dia

me livrará de todo mal,

dentro do amém que arranjarei.

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 17/07/2023
Reeditado em 03/01/2024
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