Chegou o momento!
Chegou agora a hora do mito extinto fenecer,
Lembra ainda as grandes horas urgidas de sangue
E elevadas flâmulas acesas pela glória e poder?!
Mal tinha visto a primeira luz no firmamento nascer,
Já a palidez e a mentira inundavam teus sangrentos pés,
E a alegria fugia no dorso quente das marés.
Ondas de breu andavam sorrateiramente pelas cidades,
E tua vigília exigiu o puro sacrifício da lealdade
Dos milênios ajoelhados em facções e planícies estéreis.
Sem os deuses pelos quais as lutas povoassem,
Outros povos vieram se aninhar nas tuas causas
E viam-se guerras sem memória amotinar a nação,
Nação povoada por tantas misérias, mortes, aflição.
Sem os deuses pelo caminho, vimos emudecer a história,
E as espadas ainda não se prostaram na porta das famílias.
Extinguir-se-á a Ira por toda a vastidão dos mares e dos vales?
Veremos morrer o eco tribal das chacinas e de tantos males?
Retorna, meu amigo, pois o tempo está sendo de secas e de fome.
Já expiram as colheitas entre os teus braços cansados,
E por toda a floresta, vagava à toa a silenciosa noite,
O horizonte espiava as searas vermelhas do porvir.
Saibam, porém, que os heróis nascem do ventre do silêncio,
Embora as nuvens cinzas soergam um negro lençol contra o Sol,
E as frontes pintadas de sangue pelos dedos da cólera e do rancor
Serão apagadas pela chuva que expiará nossa tristeza e temor.
Jazem enterrados eternamente os mitos nesse longo caminhar,
e nossas mãos já tocam o solo e estão prontas para a gleba arar
e nossas vidas, sonhos e histórias poderão semear e frutificar.