O tempo de ensacar céu azul

já usei miçangas em volta do pescoço

agora, tenho ali apenas rugas e contas

e estas me sufocam: são todas de pagar

e trabalho duro pra manter tudo em dia

e dou prejuízo até se eu parar pra cagar

entre tantos “es”, desacreditei da loteria

e teria que nascer outras e várias vezes

e apostar sempre, a cada novo concurso

probabilidade usurpou minha esperança

e apostar é coisa que eu já nem lembro

a lembrança é povoada só dos relógios

que trazem as horas que me perseguem

eu queria mais tempo pra perder tempo

o tempo repleto de tempo duma infância

o da eternidade entre um e o outro Natal

aquele da infinita espera de aniversários

que hoje se acumulam, decrescivamente

queria mais tempo pra coisas da inocência

pra disputar trava-língua com grilos gagos

e pra colecionar aranhas mancas, de novo

queria mais tempo pra lidar com a poesia

tempo que é de ensacar manhãs de céu azul

pra dar outra cor às tardes que se acinzentam

-- esse poema foi publicado em meu blog pessoal (https://antoniobocadelama.blogspot.com/) em 9/7/23 --

Antonio L
Enviado por Antonio L em 09/07/2023
Código do texto: T7832777
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