Premonição

Não são aleatórias as colinas mutiladas

ou este braço de mar como um perturbador vitral da noite

estrangulada

é o sinal da morte que escurece as águas

e detém sua dialética missão de ser sempre diferente

outra

nada mais respira nesta cidade

nem as palmeiras da necrópole de mármore

nem os inquietos aguapés do rio seco

esperamos o milagre da chuva com a língua partida

tememos nossa morte na seca

irônico fim para os habitantes de um porto.

Para nadar é necessário fé e braços enormes

não se trata de flutuar embora se possa levitar nas águas

a ideia é ir contra a corrente e superar a força

desmedida da natureza

de uma cidade pântano.

Uma mulher avança sobre as águas com a precisão

[de um tubarão

chega ao futuro

ilha

sobe as cachoeiras e retrocede até o porvir

queima sobre as águas

o ato ainda é indescritível

ela se encarregará de escrevê-lo.

O porvir, as colinas mutiladas

nem uma Sumaúma sobrevive

espetáculo sinistro de reconstrução e escombros

os cerros castrados farfalham, os esteiros crescem e a água

sempre a água pronta para nos cobrir com seu esquecimento.

A melancolia alastra o asfalto.

(María Paulina Briones)
Enviado por Gilliard Alves em 05/07/2023
Reeditado em 06/07/2023
Código do texto: T7829609
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