SINA
As coisas da vida vão passando por mim
e, como esponja, absorvo a necessidade,
incrustaram à epiderme as puras verdades
e minhas joias, ao contrário, brilham de fim.
Escada, janela, panela, mesa, caneta, giz,
escrevo o que vejo e como elas são,
mas como me autodeclarei poeta e fiz
uma junção de toques de tela e palavrão,
disseram que era poema; qualquer outro
que escrevesse a situação no mesmo esquema
ah, seria só uma encarnação, um estorvo,
se eu erro no despreparo da língua: licença;
se o cidadão erra é uma despreparação
que se corrige na profundidade gramática
em cursos onde a capacidade pragmática
leva ao fim e a cabo tudo de reflexão
e lá se vai o sujeito pra decoração
só pelo fato de não ser poeta!
É claro que estou mentindo em nome da peta,
mas faz sentido.
Que valor tem mais: saber a métrica
ou a sintaxe?
Quebrar o período no sentido
ou prezar a vírgula na frase?
É bem mais útil o saber objetivo
do compêndio de todas as regras
que inventar as suas em nome de uma poética
que não gera um só centavo
e absolutamente não agrega,
queria eu a mesma habilidade
na hora de responder os simulados,
erro questões de minha competência
e não tenho perspectiva de ser aprovado
que meu nome só tem valor na sina
que assina o termo do empossado.