Lanternas de Barro

 

Se me perco no ralo do tempo,

cativa da dor e dos farelos de guerras

que fizeram minha segunda-feira de ontem,

talvez ainda me deixe abater pela fuligem da vida.

 

Ando tal qual Limpador dos Ventos,

limpo com um pano o ar 

enquanto carrego alças de vidro

sobre o chão de fragmentos que me verba os pés...

 

E me pergunto:

“que dia é hoje?”

não mais conciliando o tempo

com os hieróglifos

do calendário da parede.

 

É que se passaram tantos séculos

que nem me conheço mais

e nada mais sei do sol

que me fugiu com seus raios

me deixando apenas chuva.

 

Mas, é o presente que tenho, que posso viver...

Fecho as horas com pontos e vírgulas

precipitando continuidades...

Mas continuidade de quê?

me pergunto cáustica.

Continuidade de vazios e silêncios

de um tempo carcomido de saudades?

Sãs ou loucas inquietações

me beiram o precípio interior...

 

E, à título precário, por minhas inquietudes,

recebo pensamentos e açoites

silenciosas e dolentes

em minha noite de antigas melodias...

 

E bem me conheço:

é tempo de lanternas de barro

cedros e portas fechadas

em meu castelo de sonhos e utopias...