Lágrimas na Montanha
A mágoa, guardada ao universo, turva,
como pesadas nuvens no céu de agora,
desviando a luz no nascente, fazendo curva,
como o amor que, pelo desgosto, foi embora.
Chora por mim, escura nuvem solitária,
sombras pela Montanha, rosas perfumadas,
onde a paixão por ti é quase sectária,
nas veredas estreitas das Terras Queimadas.
Chove lágrimas, umedece os lábios meus,
deixa a luz do luar refletir sobre meu rosto,
como podes achar na escuridão teu deus,
se durmo sobre a cruz a soluçar desgosto?
Cai a chuva se contorcendo, preguiçosa,
e uma réstia de luz pálida e desolada,
cai suave, e reflete sobre a poça amorosa,
do teu olhar a lágrima fiel e delicada.
Minhas mãos que te procuram em agonia,
sobre a Montanha, em um sonho acordado,
onde meu coração se perde em nostalgia,
na escuridão da dúvida, abandonado.
Aqui, inerte na solidão do pensamento,
vivendo cada lágrima tua com paixão,
bebendo a chuva no cálice Sacramento,
no matiz rubro das gotas do coração.
É meu este sonho que agora me sufoca,
e que ao mundo do desejo me transporte,
sobre um soluço que asfixia e provoca,
sumindo num orvalho acre sob a morte.