Poema não muito polido

Poema não muito polido

São José, SC, 01/06/2023 – 8h56

Minha mãe tem 65 anos e uma memória que às vezes falha.

Eu tenho 42 anos e minha memória também.

Eu tento ajudar a cuidar de minha mãe,

mas ela, muitas vezes, cuida mais de mim

que eu dela.

Eu tenho um transtorno de ansiedade

muito imenso, incômodo, inconveniente,

atrapalhado, encrenqueiro, rabugento,

surdo, esquisito, problemático mesmo

e agora de manhã,

ao chamar um uber para minha mãe,

fiquei numa ansiedade e dúvida monstruosas:

acompanhá-la da janela

em (minha) segurança

ou junto dela

o embarque

que ocorreria em uns três minutos?

Senti vergonha de mim mesmo

por fazê-la esperar sozinha

na frente do portão do nosso prédio,

onde passa tanta gente

(como em todas as ruas):

Se moramos juntos,

por que não aguardarmos juntos?

Ou tudo isso seria

mero apego demasiado meu?

Talvez ambas as coisas:

preciso desapegar-me

e não ter vergonha das coisas simples

(mas voltar atrás numa decisão,

num pensamento,

numa postura,

ou mesmo transpassá-los

às vezes requer força hercúlea,

não para 12 trabalhos,

mas para um só:

conseguir equilíbrio).

Afinal, é assim

que o poema uma hora acaba,

por isso se ame,

ame sua mãe,

ame a vida,

ame seu próximo,

e todo o bem que puder

decl(ame).