AO POETA
Teu sono não dorme,
vives insone
delirando pelo mundo
a gritar tua dor espástica
ou a beleza nua e crua
que enxergas no escuro
- O clarão na escuridão
Há no teu gemido
um gozo ou o ardor
da lâmina fria
que suaviza tua vida
- Nascer e morrer
Não se assombre
ao revisitar teus mortos,
eles ainda vivem
nas rimas do cotidiano
e na insistência natural
do ser
- No sim e no não
Na varanda aos raios
do primeiro sol
lerás as mesmas notícias
impressas no jornal matinal
e agora outros fonemas
versejam a mesma poesia
- A velha novidade
Verás então
na velocidade
de um cometa
entre o sol e a lua
nas batalhas diárias
do existir, a inspiração
Pintura: O Poeta - Marc Chagall, 1911.