Encantos e Enganos
Ó doce encanto, traiçoeira iludição,
Que ao coração enganas com tua artimanha,
Agraciada sedução que embaça a razão,
Despertas suspiros na alma, como uma estranha.
Com tuas vestes tênues, véu de devaneio,
Desfilas soberba, despertando o desejo,
Embaçando a visão, turvando o anseio,
Embriagando o âmago, qual veneno em lampejo.
Ah, iludição, qual sereia enfeitiçaste,
Despertas fantasias, sonhos em desatino,
Envolve os sentidos, num bailado constante,
Mas no fim revelas teu cruel desatino.
Com palavras gastas, promessas vãs no ar,
Cria-se a tapeçaria de falsas esperanças,
E o coração, ingênuo, cede ao teu luar,
Sem perceber as teias que tramam tuas danças.
Tu, iludição, caminhas sorrateira,
Teu jogo de sombras, ardil bem tramado,
Conduzes os passos à beira da ladeira,
E em queda vertiginosa, tudo é dissipado.
Oh, iludição, teu nome é engano,
Como eco de antigas eras, palavras esquecidas,
O tempo tece teu fio, num eterno desengano,
Enredando os incautos em tramas doloridas.
Mas, ó iludição, mesmo em tua face traiçoeira,
Há quem busque a utopia, a doce quimera,
Pois na ilusão reside a chama derradeira,
E em sonhos e ilusões, encontra-se a primavera.