SIMPLESMENTE VIVER
Desconfio
que de mãos dadas,
Deus e o Diabo,
sem cumplicidades
ou culpas,
sempre estiveram
ao meu lado.
“Levante, vá…”,
dizia um, esperançoso
do meu reinventar
e com o polegar levantado
sinalizava para mim:
“Tá tudo bem, siga!”
“Não adianta!
Rasteja, estás perdido”,
sussurrava o outro
com um sorriso
de trevas
e lágrimas de dor.
Assim, acordava
todas as manhãs.
Nessa luta titânica
do existir, cresci,
amadureci, trabalhei,
corrompi e sofri
corrupções de desejos;
reinventei-me
diversas vezes.
Amei desesperadamente,
tive filhos e a vida
que é essa urgência
contínua do querer,
acontecia nessa
inevitável e colossal
inconsistência.
Sigo dialogando
entre o bem e o mal,
- o sim e o não -
entre o certo e o errado.
Navego na certeza
das fragilidades
das vivências,
encanto-me
pelos sorrisos das cores
na beleza da flores,
que bem cedinho
sorriem para mim.
Desconfiado
que sou,
sigo equilibrando-me
entre o encanto
e desespero do viver.