Ofélia e Seu Lago
O nome dela é Ofélia
e ela era seu próprio lago.
Se ouvisse dos próprios lábios
teria a vida como o mais amargo dos limões.
Ela nunca os espremia, nem aprendia, nem melhorava, só jogava na parede suas chateações.
Existir era um conceito muito complicado, mas era no não existir que ela tinha se amarrado.
Tremia só na imaginação de ir sem deixar mais nada além de suas fracas tentativas e humilhações.
Artista medíocre sem charme nem marra. Apenas uma fraca querendo atenção.
Lia, escrevia, pintava e moldava, mas nada do que fazia era belo.
Só mais um singelo desespero em busca da imortalidade,
presa na imoralidade das próprias criações.
Talvez o que faltava nelas era algo bobo como algo bem pensando por corações.
Não Ofélia, ela é vazia
Egoísta
E mimada
Não se motivava a nada que não lhe desse imediata satisfação.
A vida passava arrastada e de jovem endiabrada ela graduou para uma adulta em perdição
Nada conquistou, nem mesmo um retalho ou um barato cordão
E o vazio de Ofélia crescia tanto que nem tinha mais Ofélia para dar
Era apenas uma velha, sem graça, sem ideia
Com o silêncio no lugar do coração.
Casca de ser humano, a imaginar qualquer fundo de plano seria mais interessante que a verdade
E mesmo na infelicidade, se agarra a vaidade sem nada além de destruição.
Ofélia acende o cigarro, apaga no armário, vomita a refeição
Bebe água quente, se agarra em gente, finge satisfação
Escuta música antiga enquanto desliga sua imaginação
Se olha no espelho em puro desespero e quase se acaba na fatiação
Ofélia é seu próprio lago, só ela escolhe sua salvação,
mas é sempre uma guerra interna, entre a vontade de ir e
a de esperar repetir o refrão.