Selenofilia

Para muitos, apenas mais um cosmo acima de nós cujo principal objetivo é clarear as nossas noites. Para muitos, uma das muitas esferas que há no nosso sistema solar que não representa relevância na vida, já que se encontra tão distante e tão supérflua. Esses, em algumas situações, não buscam admirá-la em suas aparições justamente por estar presente em suas vistas todos os dias, em todas as noites, e, parcialmente, ao amanhecer e ao entardecer. Já eu, aquele que todos os dias busca um momento a sós com ela, que em todo entardecer a procura para avistá-la, penso exatamente o oposto.

Ah, se eu pudesse relatar todas às vezes que ela, tão calada e tão sincera, iluminou meus pensamentos, minhas inquietações, meus caos. As inúmeras situações em que eu, muito mal por questões pessoais, recorri ao seu brilhar justamente por saber que ela poderia me socorrer naquelas situações. Não precisei verbalizar uma sequer palavra, apenas meus turbilhões de pensamentos. Ela, naquele espaço e acima dos meus olhos, do meu quintal e das minhas inseguranças, me levou a refletir sobre tantas coisas, tantos momentos, tantos acasos. Ao ler sobre esse verbete, lembrei-me de um dia específico em que fui à praia acompanhado de alguém que poderia ser o amor da minha vida naquele instante. No entanto, ao me aproximar das águas salgadas e avistá-la refletida, senti que ali, naquele momento, consegui chegar o mais próximo possível do real amor da minha vida.

Pode parecer besteira, mas depois que tive essa reflexão, meus pensamentos só direcionavam ao seu reflexo, à sua beleza e à sua luz. Percebi também que aquela companhia que mencionei há pouco, estava, de alguma forma, atrapalhando o meu dialogar com a lua. Não a culpo, se formos analisar, só fomos à praia e à noite para contemplarmos a companhia um do outro, eu só não sabia que seria atraído mais uma vez pelo silêncio e brilhar daquele satélite. Somente às 23:30, no momento em que ela me deixou, voltei a minha atenção e meu dialogar para a companhia que também há pouco era inoportuna.

Para a inoportuna, voltei para minha casa sozinho e frustrado por desperdiçar uma noite de prazeres carnais, mas a meu ver, voltei acompanhado e seguro de que, mesmo distante, algo me protegeu de uma noite ilusória com alguém que enquanto eu projetava mares e mundos, só queria um momento. À lua, prometi silenciosamente, mil coisas e principalmente a minha essência. À lua, dediquei amores fracassados, amizades perdidas, sentimentos guardados, futuros brilhantes, conquistas pessoais e, acima de tudo, um alguém totalmente diferente daqueles que não contemplam à sua beleza e à sua força capaz de desapaixonar qualquer apaixonado. Sim, sou alguém selene e sim, isso é uma filosofia. Há quem chama as pessoas com admiração pela lua de loucos, fanáticos e até mesmo de tolos. E daí? O que há de louco na gente por apreciar algo tão significativo, que gera comoção por milhares de estudiosos, de culturas e das pessoas apaixonadas? Ela, distante, atua nos mares, oceanos, nas vidas e nos sentimentos. Só por isso, ela merece tamanha admiração. Ponto.