Cala-te
Que dizes? Pobre alma escarmentada
Que vocifera seus anseios e corrói-se em
Autodesprezo, aquiete-se homem e
Conte-me esse pranto que tanto lhe causa espanto.
Ó senhor, tão grande é meu desvalor
Quero ser como os presunçosos
Que gritam sua rebeldia
Desejo me assemelhar aos humildes
Que enfrentam a dor com serenidade.
Cala-te, pois grande é vossa insensatez
Tuas falas assemelham-se às de um tresloucado
Que visitava-me em meu leito mórbido
Da mesma forma, tuas ações melancólicas
Era uma estratégia que meu amado empregava
Para fugir de minha moléstia.
Sou incerto, creio que já percebestes
Quero consolar os insensatos e dizer palavras
Para animá-los, mas estou preso
Em minha devassidão
Quero ser como o senhor
A quem a enfermidade não ceifa
E o luto não derruba.
Ó meu caro, como desejo que verdadeiras
Fossem tuas palavras, mas o luto é um velho conhecido
E sua face já fizestes-me enfermo
Não compara-te aos outros, suas dores são
Ocultas e a morte os ronda, assim como a loucura
Que te consome lentamente.