Eu que pouco sei,
Zombo de minha própria ignorância,
E por não saber tanto,
Descubro ter noção de algo.
Desvendo que o sentir
É mais puro do que a razão,
Ainda que esta seja superior em método,
Eis que o primeiro é liberdade,
Eis que a outra é significado que delimita.
Eis que uma é conceito que explica,
Eis que o outro é como que coração etéreo a pulsar.
A vida passa como um gotejar de pingos em calhas
Após o cair das lágrimas doces de certa chuva.
Ah, este céu de tantos mistérios,
Quantas dúvidas pontilham no piscar contínuo das estrelas.
E eu cá estou limitado a espaço e tempo,
Tentando encontrar um propósito para o ‘logo existo’,
Pois que ser, haverá de hoje estar, mas amanhã não mais.
E não se faz necessário consolo ou esperança,
Ou em sentido inverso,
Se faz necessário uma espécie de misericórdia transcendental.
Um afeto disperso em meio a uma brisa de perdão celestial,
Um orvalhar fora de hora que traz uma madrugada,
E não querendo saber o espaço entre começo e fim,
Mergulho num entardecer crepuscular,
Em que ouço distante sinos a acusarem seis da tarde,
E no findar do dia, sinto algo alado dentro de mim,
Eis que parece que guardo minha própria liberdade,
Eis que de algum modo sou minha própria prisão.
Vezes parece haver olhos a me guardarem,
E em meio a solidão de meu ser
Temo me deixar apenas ser conduzido.
Eu que de algum modo pareço apreciar aventura,
Sinto como que asas exaustas a pedirem pouso.
Mas eis que já se vai o crepúsculo e nova noite
Que clama com suas estrelas e uma lua crescente,
E eu lunar que sou sinto o movimento das marés de emoções,
Num fluxo de ir e vir de uma praia deserta
Perdida em lugar nenhum.
Pois que ainda que próximo,
Parece que meu destino é ser distante,
E ao tempo muito próximo de mim,
Vivo a empreender fuga com meu encontro.
Para concluir que talvez eu saiba algo,
Mas que no fundo não deseje saber.
As vezes o mistério é filho da misericórdia.
E em esta havendo de existir,
Quem sabe exista um propósito
Pelo qual se vala a pena a constatação de existir.
Algo bem longe de precária humanidade de cada um de nós.
Mas chega pelo momento, não desejo respostas,
Apenas caminho a gastar o meu tempo
Fingindo que não me importo, e talvez me importando,
Sabe-se lá! Quem poderá efetivamente saber?
Música distante, e o silêncio quer dizer,
Mas eu dou os ombros
E apenas sigo.

01/04/2023
Gilberto Brandão Marcon

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 09/04/2023
Código do texto: T7759814
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