O Moinho
O Moinho
Sopra vento aos quatro cantos do mundo,
Movendo grãos de areia sem propósito algum e as almas alheias nem percebem o seu mover
Sopra vento naquele trigal fazendo bailar suas sementes ao ponto de tocar-se por tocar sem qualquer emoção
Sopra vento nas velas das embarcações a deriva no mar das desilusões que mesmo perdidas sem saber a direção pra ir encontra-se ao acaso no meio do oceano do vazio de suas almas
Sopra no rosto daqueles que se amam e longe estão mesmo na distância do ar de seus pulmões
Sopra vento nas pás desse velho moinho abandonado e esquecido pelo tempo, aqui o grão da esperança fora moído tão triturado deixando o desgaste em mim sem correção, eu ainda preciso existir nas lembranças de alguém que fecha os olhos só pra ver esse moinho nos tempos áureos de sua edificação
Sopra vento em mim esse moinho velho cansado de tantas moendas pela vida afora onde o uso e abuso já me causa desuso da desumana ingratidão...
E pra que um moinho precisa existir sem alguma contemplação
Será eu um Moinho?
Será eu um vento arredio?
Será eu só apenas um grão?
Eu achará ser um moinho imponente capaz de resistir ao tempo e vencer as tempestades, moendo todas as sementes sem distinção
Hoje sei que sou só carne, cansado moído como os grãos que um dia tive força pra nesse processo de mudar a natureza de suas matérias tentando ensinar alguma lição
Eu só quis ser moinho sozinho sem sofrer qualquer intervenção da vida nos ventos do passado ansiando calmaria no presente temendo tempestade no horizonte do futuro sem previsão
Quem me dera apenas viver ter direito a vida sentir o mundo ao meu redor me fazendo me sentir vivo com a vida fluindo de mim ao invés de ser mais uma pequena marionete onde o destino move as cordas pra me dar vida ou mesmo um grande mamulengo pra animar o viver de alguém que não sabe ser moinho, grão ou vento elísio, alegrar ser que só sabe ser tempestade na pás do moinho solitário de alguém...
Ricardo do Lago Matos