O quintal de minha morada

nos tempos que me mudei pra cá

eu separei um pedacinho de chão

cercado, com taramela no portão

pra fazer, da nova casa, o quintal

é troncha, a morada sem canto tal

e, ai dele, sem pé-de-versos é ermo

infrutífero e desabitado e enfermo

então o plantei, sob um abacateiro

brotou alegre, e feito um guerreiro

pra escapar da escuridão, cresceu

pendendo-se à esquerda, como eu

por barbas-de-velho, tão vergado

e ficamos análogos, tem-se notado

só que ele faz até versos temporão

e eu nem sempre tenho disposição

pra apanhá-los no pé, já não subo

deixo que caiam, que virem adubo

mas, às vezes, revolvo aquele chão

e coloco-os sujos em meu peneirão

que é de malha grossa e palha seca

pra não segurar caracol e perereca

e pra que vazem versos diminutos

acho crescidos versos mais bonitos

e poema sem tempo fica batumado

Antonio L
Enviado por Antonio L em 27/03/2023
Código do texto: T7749843
Classificação de conteúdo: seguro