Gênese
Gênese
No princípio era a inocência, a dependência, o medo.
Os primeiros passos monitorados a mostrar caminhos,
Os primeiros sons advindos das vozes conhecidas,
muitas vezes carinhosas, outras tantas mandatárias.
Na voragem da infância os ritos se somam. Incipientes.
Aos poucos determinam ciclos, fazem história devagar,
enquanto a vida passa depressa, ávida, voluntariosa.
Com o tempo, a revelação do segredo rompe mistério,
desnuda fantasias, expõe os instintos, sofrega a ternura.
Impetuosidade então aflora no destemor, na ousadia,
transborda anseios incontidos em corações pulsantes.
Devaneios, arrobos, paixões poderosas. Metamorfoses.
Nos ímpetos juvenis tudo parece possível, impreterível;
nada é mais premente, mais imperioso, inadiável.
Idade adulta impõe limites, aplaca rebeldia persistente,
é chegada a hora de colher frutos ou penitências.
Em abundância ou malogro há de se entender porque,
cada um a seu modo sela o destino. Caminhos ….
Das raizes fincadas vieram (ou não) frutos de ocasião,
para felicidade ou desdita, para perpetuar ou fenecer.
A cada um é dado o quinhão cultivado.
Quando enfim corpo e alma se aquietam sábios,
os sentidos arrefecem seu poder tirano e bélico,
a sabedoria encontra seu lugar de conciliação:
aceita o passado, perdoa enganos, releva a dor.
Cometer insensatez, impensável! Ponto pacífico.
Os mesmos erros, nunca mais! Definitivamente.
Só a infância retorna amena, agora para ficar.
Nadja Abdo - 2022