Ode da Desesperança
Ó Desespero meu! Tu que segues e medes
Em cada passo que dou ou não na vida,
Tu que me arrebatas e ainda me prendes
Com tuas garras tão afiadas e retorcidas.
Ó Desespero! Senhor da humana tristeza,
Tu me ensinaste o valor da dor e da solidão,
Tu me colheste do chão da vida e da natureza
Cruéis, malignas e sempre sem compaixão.
Ó Desespero! Meu gênio epilético da angústia,
O qual revelaste o mal de toda alma humana,
Tu que me fizeste sentir e sofrer a imensa labuta
De ser homem corruptível e de ser presa da insana.
Ó Desespero! Meu desgraçado deus da decadência,
Que destilaste em palavras a profundidade da dor
De viver em meio a toda putrefação e à demência;
E ainda assim, inspiraste-me a procurar o Amor.
Ó Desespero Sempiterno! Profeta da morte,
Que me achaste no seio da podridão e da beleza,
Tu me mostraste que esta vida vã é um vil corte
Que leva à morte_ sem alegrias e sem firmezas.
Ó Desespero de tudo! Tu sempre me acompanhas,
E em ti encontro, às vezes, um refúgio e uma dor,
E no teu templo cantam a certeza e a incerteza
De que a vida é sempre inútil, vazia, sem amor.
Mas mesmo assim, eu canto a ti, Desespero,
Pois és a verdade nua e crua de toda a vida;
Ainda que me faças sofrer, eu ainda Te venero,
Pois sem Ti, sou o mero reflexo da ilusão perdida.