Caligrafia.
Tem dias que sinto
Muita saudade de mim
Quando os sinos badalavam
Nas igrejas em que eu não ia
Das pessoas que não cumprimentei
E outras coisas que eu não via
e que eram boas
Tem dias que são assim
Em que a gente lembra
Da linda caligrafia
Que dizia nada de importante
Como todo ignorante
Eu admirava a forma sem conteúdo
Era igual a duvidar da crença
e rir pra vida à toa
Saudade da pressa
Essa que, contudo
Nos carrega pra lugar nenhum.
Da corda que pendia
Sob os galhos, numa tarde morna
Num tempo em que só se vive
Pensa que vai ser pra sempre assim
Olhar as sombras do girar do mundo
Atrás das luzes que as contornam
Nostalgia, me lembrar de mim
Buscando atalhos
Curioso pelo não saber
Se soubesse, as teria ignorado mais
Coisas que esse tempo impiedoso nos ensina
Como a olhar o vilarejo, lá do alto da colina
E sentir vontade nenhuma de estar
Se deixar ficar e nunca mais descer
Se hoje eu sei tantos porquês
Foi porque fiquei sabendo sem querer.
Edson Ricardo Paiva.