Estátua

Saudamos aquele que se mantém firme

Perante a iminente dissolução de sua personalidade

Que enraíza os pés no chão, ao relento

E aceita as intempéries de peito aberto.

Que não se abate; que não reflete

Que não vacila enquanto sua carne derrete

Valsando no lento baluarte de seu próprio coração

Pois este, que veste tamanha responsabilidade

Desde cedo, de pouca idade

Sabia dizer que teus caminhos seriam tortuosos

''Aquele que navega no escuro possui mais pares de olhos''

Mas não conseguia ver o a maré que o derrubaria.

Saúda, mas ria

Ria da sua inocência patética

De sua ecléctica permissão

De ver-se despido de senso comum

Humilhado, e sem qualquer pretensão

Continuar de pé, em meio a uma chuva de tomates

Que arremessam-lhe a população.

Um bobo da corte de nascença

Com pouca diferença entre si mesmo e qualquer sátira que seja

Apenas um lembrete da inércia

Que buscou personificação.

É somente o que carrega em suas mãos,

Se é que existem dedos que carreguem tamanha decepção.

Não há menção de heroísmo, pois ninguém pediu

Não há isenção de derrotismo, pois é tudo que se viu

Prostrar-se como estátua não lhe confere qualquer qualidade;

Um mar de maldade derrubaria qualquer verdadeiro capitão.