ENGENHOS DE BAGAÇOS
RANGEL MARQUES
Nos engenhos as moendas
moendo canas,
Moem as tristezas
Já moidas em mim...
transformando a cana colhida
Na cachaça curtida, em grandes barris
Fazendo rapaduras doces, bonecos de alfenim!
Nos engenhos os bagaços
São flores de um jardim
As abelhas flutuantes sugam
Fazendo mel e melaço de mim...
Foi um tempo sem doçura
E de muito desprezo
De maltrato de exploração
Foi engenho sem zelo
Açúcar de sangue humano
Misturado no doce do açucareiro
Os engenhos exploraram
A mão de obra pobre
Na ganância de grandes lucros
Para ostentar uma aparência nobre
No meu pensamento eu escuto
O barulho da moenda,
Os escravos fazendo a garapa
As escravas fazendo as rendas
À noite na senzala
O culto à jurema!
Foi um tempo colonial
De completo maltrato
Os engenhos utilizando
Os capitães do mato,
Pra caçar os seres humanos
No chicote e no laço!
Adeus meu engenho,
Que a tua época não volte mais
Deste impulso ao progresso
Mas, foste um cruel capataz!