O problema empírico
Desfaço e me refaço como a água
que adensa a chuva no inverno
que apreende o gosto na lágrima
que aprofunda os mares na travessia
que mata a sede na ausência de tudo.
Como um rio que corre sem destino
Como a vida irrigada nas plantações
Como a liquefação numa taça de vinho
Como um corpo que se hidrata ao sol
Ou a dureza dos icebergs que se soltam.
Desfaço e me refaço em constância
Átomo, carne, vida, átomo…
Cadeia perene de processos findos
Encadeados ciclos intangíveis de sopros
Sem se romper, sem romper, sem rompimentos.
Eu não sou a ossatura que reside em túmulos
Nem as roupas que revestem o corpo
Ou mesmo o corpo que carrega os sentidos
Ou os sentidos que se engendram no todo
— Pai, paizinho… Quem sou?