O problema empírico

Desfaço e me refaço como a água

que adensa a chuva no inverno

que apreende o gosto na lágrima

que aprofunda os mares na travessia

que mata a sede na ausência de tudo.

Como um rio que corre sem destino

Como a vida irrigada nas plantações

Como a liquefação numa taça de vinho

Como um corpo que se hidrata ao sol

Ou a dureza dos icebergs que se soltam.

Desfaço e me refaço em constância

Átomo, carne, vida, átomo…

Cadeia perene de processos findos

Encadeados ciclos intangíveis de sopros

Sem se romper, sem romper, sem rompimentos.

Eu não sou a ossatura que reside em túmulos

Nem as roupas que revestem o corpo

Ou mesmo o corpo que carrega os sentidos

Ou os sentidos que se engendram no todo

— Pai, paizinho… Quem sou?

((EU))
Enviado por ((EU)) em 08/01/2023
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