Um Brinde Ao Conturbado Ano de 2022
Encerro o conturbado ano de 2022
Sentindo a miséria gerada por Bolsonaro,
Enojado com a infindável burrice dos patriotas nos quartéis.
Surpreendido com parentes vomitando fascismo e se dizendo cristãos,
Gritando e se movimentando contras as opressões.
Sem ter presenciado a bonança social,
Amedrontei com novas cepas da covid,
Contive a incerteza diante do fantasma desemprego,
Entristeci com os ocos estômagos mendigando comida pelas ruas.
A indignação se apossou da garganta
Ao gastar níqueis com o alto preço da carne,
Ao ver o ódio destilado contra os humildes.
Apesar de todo infortúnio,
Sem domínio de otimismos,
Na graduação de tantas dores,
Muitas vezes chutando pedras
E esbravejando aos quatro ventos,
Foram dias também bem vividos.
Fui no aconchego do lar dos meus pais,
Feliz! E reaproximei da terna irmã, selei
A duradoura e completa união com a esposa,
Aprendi em longas tardes, lições para toda a vida No convívio com queridos alunos.
As poucas amizades permaneceram leais,
O genocida não reergueu seu ódio no Palácio da Alvorada.
E na dialética composta de barbárie coletiva
E frestas de intensos afetos,
Veio péssimas sensações, adoeceu o peito,
Ardeu tudo em indignações e derrotas.
Mas entre pérolas e porcos, lama e paraíso,
Viver os 365 dias foi vencer obstáculos
E forçar a escrita da existência em tortuosas vias.
Um brinde de vinho, de pesada cachaça
Ao ano de uma corrente pesada em sofrimento.
Luz sobre cada ignorância,
Sobre cada hectare de desigualdade.
Diante das injustiças mais indecorosas
Que corroeram por dentro cada fio de ânimo,
Ousadia e reinventada inteligência
Para esmagar,
Derrubar a maré de horrores
Que se apossaram do hoje,
Mas cessarão amanhã!