O último dos Tanarus
Eram filhos legítimos da floresta
Desvendavam as profundezas das matas
Bebiam nos fios cristalinos das cascatas
Dançavam no ritmo alucinante dos tambores
Tinham por guardiã e testemunha
A lua branca que prateava o horizonte
Nesse ritual, o cauim borbulhante
Animava a dança, afugentava os temores
A desesperança veio numa ventania
Espalhando pranto pelos campos
A invasão dos gananciosos brancos
À tribo Tanaru, trouxe destruição
Desse massacre na Amazónia
Restou apenas o "índio do buraco"
Com medo, voluntariamente isolado
Inconsciente, aceitou sua prescrição
Escondido, qual bicho do mato
Passou décadas fugindo da civilização
Tomou essa triste e radical decisão
Ao ver seu povo ser dizimado
Nessa solidão, tristonho guardava
Os sons coloridos na lembrança
Os momentos marcantes da infância
Recordações de um belo passado
Perambulou na floresta sem fim
Pescando, caçando pequenos animais
Com saudade dos irmãos e de seus pais
Seus olhos já não sabiam mais chorar
Foi encontrado sem vida numa palhoça
Envolto em penas de arara, paramentado
Na rede, esperou a morte, adornado
Na terra Tanaru, ele queria descansar
Porém, este símbolo de resistência
Último de um povo, bravo e inculto
Ficou quase três meses insepulto
Que absurdo! sob a guarda da FUNAI
Com a intervenção do Ministério Público
O último Tanaru, foi finalmente sepultado
No chão sagrado de seus antepassados
Deitado na quietude de seus ancestrais