O último dos Tanarus

Eram filhos legítimos da floresta

Desvendavam as profundezas das matas

Bebiam nos fios cristalinos das cascatas

Dançavam no ritmo alucinante dos tambores

Tinham por guardiã e testemunha

A lua branca que prateava o horizonte

Nesse ritual, o cauim borbulhante

Animava a dança, afugentava os temores

A desesperança veio numa ventania

Espalhando pranto pelos campos

A invasão dos gananciosos brancos

À tribo Tanaru, trouxe destruição

Desse massacre na Amazónia

Restou apenas o "índio do buraco"

Com medo, voluntariamente isolado

Inconsciente, aceitou sua prescrição

Escondido, qual bicho do mato

Passou décadas fugindo da civilização

Tomou essa triste e radical decisão

Ao ver seu povo ser dizimado

Nessa solidão, tristonho guardava

Os sons coloridos na lembrança

Os momentos marcantes da infância

Recordações de um belo passado

Perambulou na floresta sem fim

Pescando, caçando pequenos animais

Com saudade dos irmãos e de seus pais

Seus olhos já não sabiam mais chorar

Foi encontrado sem vida numa palhoça

Envolto em penas de arara, paramentado

Na rede, esperou a morte, adornado

Na terra Tanaru, ele queria descansar

Porém, este símbolo de resistência

Último de um povo, bravo e inculto

Ficou quase três meses insepulto

Que absurdo! sob a guarda da FUNAI

Com a intervenção do Ministério Público

O último Tanaru, foi finalmente sepultado

No chão sagrado de seus antepassados

Deitado na quietude de seus ancestrais

Roberval Andrade Carvalho
Enviado por Roberval Andrade Carvalho em 05/12/2022
Reeditado em 26/01/2023
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