O Cinza
Mais um dia ensolarado na enfadonha cidade.
O café ruim nas padarias,
As frenéticas buzinas nas ruas,
Marcha sonolenta para o trabalho,
Instante para trucidar o ego nos afazeres protocolares.
E todo mundo cai, escorrega nos dias cinzentos
Na certeza de que isso foi normalizado nos corações e mentes
Como o fedor das moscas que sugam dejetos nas latrinas.
E os sentimentos em todo seu cinza
Nutrem a sensação de desejar o alheio,
Viver outra rotina
Enquanto se é consumido pela
Anulação das horas num cansaço
Que parece não ter fim.
As brancas estrelas de civilidade se dissolvem
Na ácida língua da mais valia laboral...
Espessa baba envolve os escravos-assalariados
Que acordam cedo,
Perdem tempo se locomovendo, trabalham oito Horas para depois terem só mais quatro para respirarem em casa.
O vendaval dos afazeres sociais enlaça todo o ânimo do crânio...
Comprar alimentos, socializar e suportar as pressões coletivas.
Nada de muitos sonhos dentro destes muros de cimento.
Temos de ser realistas, concretos, senão somos engolidos pela rigidez do mundo.
Mesmo sendo pesado o fardo que nos é oferecido,
É necessário o passo que puder ser dado rumo a pequenas e criveis liberdades.