UIVOS NO DESERTO
Sob o sol a pino do meio dia
o vento sopra quentes grãos e queima
as palavras sábias ditas pra ninguém
a boca destempera e amarga a língua
no instante em que a serpente contraí
se trai e camufla embaixo da areia
o camundongo tristonho imita o gesto
se retrai com a cabeça no buraco da toca
fecham os olhos e tapam os ouvidos
as verdades são meras palavras soltas
que a censura ouve persegue e contém
gestos longe de um algoz sempre tão perto
lobos solitários uivos do aviso final
coadjuvantes pregando no deserto