Álbum

Escreveu o eu-lírico no mundo

Inscreveu a figura e deu sentido.

A primeira palma, ou melhor, uma salva.

Chorou, mas viu que era luz.

Abriu os olhos da vida,

versificou toadas tênues,

balbuciou seu primeiro gerúndio.

Seu pai sorriu,

a mãe espremeu (sem sucesso)

uma gota entre as pálpebras antes de ensinar a letra.

Depois de um tempo

aniversariou sua primeira estrofe.

Cresceu como tudo que cresce,

Quebrou o pé,

Rimou errado.

Eis ele aí tentando extrair sentido

das figuras que lhe ficaram fixadas.

Autocoladas.

O pai de olhos abertos,

olhares se cruzaram.

Mas só um viu.

(Erick Bernardes, 26/10/2022)