Fuga(z)

Anda o humano em eterna fuga

Fuga das linhas da mortalidade

Na busca d'algo além da carne

Ante a fome que sacia nunca

De transcender a realidade.

O que não existe é mais bonito

O que não vemos é o que mais sentimos

O sonho é meio de rasgar o corpo

Sentir na boca um pouco do infinito.

É eterno tudo o que parte e fica

É eterna a brisa da lembrança

É eterno o que se perde das palavras

É eterno o que escapa do numérico.

Com as pernas, almejar o além chão

A voz quer fazer lar no vento

E após mim, onde os eus morarão?

Fica-se pois a imaginar Olimpos

Altares, Valhallas, o Limbo

Não me bastaria as estrelas

Há de haver um algo mais

Que não se limite ou preveja

Que corte os cordões umbilicais

de tal ausência sorrateira

Há de ser o corpo apenas detalhe

Uma casca de cigarra

Rogando seu abandono.