Hoje o dia nasceu antecipado

(foi o que me contaram, não vi.)

Os galos da vizinhança

(como ainda existem, depois da Apolo 11?)

despertaram a madrugada, indiscretos

(mas também não sei, foi o que disseram).

 

Não sei, não vi, não quero

Empenhado em vencer insônias

Recheadas de amores frustrados 

E de mulheres inadequadas

Nada posso dizer sobre os caprichos

Do Sol  e dos galos

Porque ambos, creio, não tem insônia

E quando amam é sempre

Uma questão de oportunidade e encontro.

 

Mas o dia nasceu agitado, afirmando-se dia

Empurrando a noite com impaciência de rei...

Eu ausente da sala do trono, como sempre

Não sei quem hoje ocupa o trono

Para amanhã morrer emboscado, talvez...

 

Mas se quiseres saber, acorda sempre mais cedo

E sejas o profeta de noites, galos e quintais

(o poeta que os cantou canta ainda soberano)

E contes o que vistes, nas montanhas, litorais...

 

Resuma o dia dos viventes, tão bem dispostos

Para mim que, prostrado, adormeço

Sem ver alvoradas nem passarada

Quem sabe porque não as mereço... 

 

Crédito da imagem: http://poetaabdul.blogspot.com/2014/01/o-raiar-do-dia.html