A rua da solidão
Na rua da solidão
Tem gente dormindo no chão
Correm e andam pelo eito
Feitos bichos no deserto
Deste ser que se acomodou
Desistiu do que sonhou
Por um não que ouviu
Ou pelas dores que sentiu
Se deixaram vencer derrotados
Se sentiram humilhados
Não conseguindo se erguer
Não tiveram forças pra vencer
Fracos e doentios na vontade
Sem confiança no próprio ser
Por medo de lutar, posto a sofrer
De tudo quanto é uma atitude
O mais relevante é a virtude
Do valor que tem sendo valor
Com lamento não se faz lutador
Pra tudo tem conserto
Quando se pensa direito
Neste quesito
É primordial o respeito
Então, paro e penso:
- Onde o homem tem o senso?
Será que não conseguem ver o todo?
O mendigo é parte do homem probo!
Porque se vive num mesmo mundo
Na mesma sociedade de fatos
Mas, cegaram todos
Miseráveis são totais
Pois agem todos feito animais
Combatendo um ao outro!
Se ao acaso do rigor qualitativo
Posso estar no senso intuitivo
Contudo penso, e cá um objetivo
Não ver um humano furtivo...
Perdido na rua deserta
Passado fome e frio
Pedindo esmola
Com trapo o nu se cobrindo...
Fazendo xixi na rua
Dormindo no duro concreto
Sem um banho e um cobertor decente
Muitas vezes sem escovar os dentes...
Se é que na boca ainda os têm
Longa a noite vem
E nos dias de frio, ar frio
Na chuva um ser sombrio
Contando as gotas caindo
Fechado os olhos sob os muros
Os albergues lotados
Mais se sentem humilhados
Na tumultuada violência
Cobertas de ignorância
Na mesma rua da dama com elegância
Que torce o nariz
Se achando a imperatriz
E o homem doutor
Se prostrando de imperador
Cegos não vêm, mas vêm
Porque precisam que eles os vejam
Porque têm os que eles almejam
O orgulho sobre o outro
De que valia tem
Se todos morrem?
Então, por que não faz bem de verdade,
Acabando de vez com a desigualdade?
Se cincos mais ricos do Brasil
Correspondem a cem milhões de miseráveis
Ouvimos isso em campanha presidencial
Mas, e daí? Se tudo continua desigual?
Qual governo fez a pobreza diminumir?
Que fez a lei de na rua não poder dormir,
e ninguém poder viver em situação de rua?
Já cansei de ver campanha do agasalho
Já cansei de ver campanha da cesta básica
Da doação de cobertor
Da doação de roupas
Da doação de sopas...
Mas, das ruas ninguém tirou
A pobreza só aumentou
Os carentes se acostumou
Pela esmola sempre esperou
E sempre esperará...
Porque enquanto existir remorso
O ser curva o dorso
E institui uma ajuda superficial
Para se sentir especial
Isso é a cegueira humana
O dente dolorido na dura cana
Pois, o tempo passa e o homem a si engana
....
Tudo porque o egoísmo impera
E ainda afirmam que é a nova era
Da tecnologia
Da democrática ideologia
De que existe a compaixão
Em um mundo mais irmão
Então...
Por que tudo se continua?
E na rua
A solidão nua
Vestido de trapo a alma crua...
E vazia...fria
Dormindo no chão!