Enquanto olhamos da janela

Não!

Não somos aquele senhor da esquina

que carrega uma maleta de negócios bem sucedidos;

Tampouco somos a senhora que caminha cautelosa

levando o cãozinho para um passeio matinal;

Daqui da janela, poucos escutam...

Passam carros, pessoas, animais,

num vai e vem típico da metrópole

que cresce a cada dia como se fosse explodir.

A sensação é de espaço limitado,

mas todos os dias a estatística aponta um novo aumento;

Estamos próximos do colapso,

na metrópole cansada,

e eu tentei, juro que tentei avisar,

mas daqui da janela ninguém me ouve...

Olhando bem, não somos aquela menina de vestido

que passa cantando e saltitando;

Nem mesmo a medicação do dia pode trazer tamanha euforia...

E não somos aquele entregador cabisbaixo

que conta cada entrega finalizada,

sonhando em voltar para casa e dormir, apenas dormir,

e depois continuar entregando coisas que vão e vem

nessa metrópole dinâmica

que não oferece nem mesmo um bom dia a ninguém.

Isso mesmo,

a metrópole está calada

e pelos terapeutas de plantão,

a cidade está com depressão.

Tenho tentado gritar da janela,

mas as pessoas estão ocupadas demais para escutar.

Nem mesmo ali da tabacaria podem me ouvir...

Talvez, se eu tentasse descer,

não, não!

Melhor não!

Já tentei e não adiantou muito.

Na verdade,

não adiantou nada!

Sigo acenando ao léu,

dizendo aos quatro cantos que assim não vai dar;

Que seguindo assim, vai parar em algum lugar desviado.

A propósito,

falar sobre desvios é mesmo comigo:

pensei um plano,

sonhei uma vida;

E vi tudo desviar.

Diziam que o desvio era natural, necessário;

E era mesmo!

Havia rotas de colisão!

Mas eu não conseguia ver,

e chorava a contrariedade da vida

procurando uma razão pros infortúnios

que me eram apresentados,

e muitas vezes esquecia de viver...

Porque viver,

é olhar cada dia em separado,

cada momento que nos trás chances de aprender.

Sem isso,

de nada vale a trajetória.

Mas eu não sabia fazer diferente...

E ficava ali agachado,

chorando a rota desviada

sem saber que ali estava eu;

Sem olhar pros rumos do caminhar...

Sem saber que da janela,

só posso ver de longe

o que ontem,

era algo que fazia parte de mim.

E olhar, agora,

não me custa muito.

O fluxo da vida segue seu percurso;

Somos parte desse todo

que roda intenso e vivo.