O VIRA LATA

Sou sem raça definida com orgulho.

Pois de diversas misturas eu vim.

Uma obra de arte de muito trabalho.

Me tornando mais forte, outrossim.

Não sei porque não vêem meu valor.

Passam por mim na rua e não me enxergam.

Afinal, sou multirraças e também multiamor.

Ser precioso, no qual investiram e capricharam

Me chamarem de vira-lata, me dói.

Pois se viro lata é por falta de opção.

A fome bate e por dentro corrói.

E só o lixo pra não morrer de inanição.

Moro na rua, por não ter um lar.

Por nela ter nascido sem escolher,

Ou por ter sido abandonado ao azar.

Mas, não gosto de na via viver.

Na chuva, não tenho onde me encobrir.

No frio, posso sem o bom calor morrer.

No verão tórrido, água não tenho para ingerir.

De toda forma, fico sempre da morte à mercê.

Não emito palavras e isso piora o meu sofrer.

Só falo com os olhos, e o homem não me é piedoso.

Sou tão invisível, que às vezes não sei o que fazer.

Então, deito num canto, e fico desesperançoso.

Cruzando as ruas sou quase atropelado;

Se mexo no lixo me batem e xingam.

Se procuro um carinho sou enxotado.

Sou desprezado e não me resguardam.

Sonho com um lugar com água e comida.

Um cantinho coberto e acolhedor.

Do frio e da chuva ficar abrigado na madrugada.

Não preciso de luxo, só de um acolhedor.

Como muito sofrimento já tive na vida.

Não quero ser acorrentado na dor.

Pois não cometi crime de nada.

Deus me fez para distribuir o amor.

Sou fiel, amoroso e muito agradecido.

Terá sempre companhia ao meu lado.

Abra o seu coração para um desprotegido

Adote com amor, e tudo terá significado.

Noélia Alves Nobre
Enviado por Noélia Alves Nobre em 09/09/2022
Código do texto: T7601666
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