O homem que morreu sem dizer que também sentia
Quantos "sentires" uma pessoa vive durante a vida?
Se perguntou na primeira página de seu caderno,
sabia que poderiam ser os degraus que levariam ao paraíso,
mas a mente se reservou em seu próprio inferno.
Dois, três, quatro, logo veio sábado,
os dias se passaram e uma palavra sequer estava proferindo
se passaram manhãs, se passaram tardes, e com elas se foram noites,
se passaram madrugadas, mas só uma coisa não estava passando:
O filme que estava se repetindo.
Qual filme? Perguntou a si enquanto pensava na próxima linha,
aquele que pode ser assistido todos os dias,
que todos já sabem como começa,
que todos já sabem como termina,
que você promete a si mesmo que desta vez irá falar,
passa a manhã, a tarde, a noite
e um sentimento sequer você pôde confessar.
A manhã se passa, a tarde, a noite,
e ele olha, como todos os dias, para o calendário.
nos domingos não havia o que se fazer,
esperou novamente o dia passar,
mudar,
para ver o que irá acontecer.
Passa-se o domingo,
levou a manhã, a tarde e a noite,
ele volta ao filme para o seu sequencial
de segunda à sexta,
já sabendo qual será o final.
Manhã - tarde - noite
de segunda até sexta-feira
"Não foi hoje, mas será amanhã", disse a si mesmo
pensando que preocupar-se com isso era bobeira.
Passaram-se os dias, as semanas, meses e anos.
e até hoje não conseguiu seus sentimentos confessar,
viu todo dia o mesmo filme sem o canal conseguir mudar,
as oportunidades se passam, os dias se passam,
os calendários se renovam,
mas sempre foi segunda à sexta, sábado e domingo.
Quantos "sentires" uma pessoa desperdiça durante a vida?
Se perguntou na última página de seu caderno,
não expressar o que sente, para alguns, é o paraíso,
mas para ele foi o inferno.