VISÃO MAIOR
Imagine uma bola vagando no espaço,
Divinamente em movimentos ordenados,
Girando cronologicamente, perfeição,
Sim, é a terra, nossa mãe, Deusa maior.
Dentro dela tem vidas, de toda ordem,
Que nascem e perece, menos ela,
Que oferece berço e nutre a todos e tudo,
E segue girando, girando, rainha maior.
Aproxime-se, sem medo, da bola suspensa,
Adentre com cuidado e deslumbre a poesia,
Contida em tudo, do pássaro a flor,
Do paralelepípedo ao diamante, ao ouro,
Das abelhas, às formigas, até as amebas.
Olhe mais, atento aos seres pensantes,
Humanos tantos, frenéticos, tidos sabidos,
Soberbos, ultrajando a mãe e os irmãos,
Criaturinhas que buscam muito além do viver,
Que matam, que se matam, em vão,
Eis que o ciclo do existir tem tempo limite.
Atente mais detalhes do formigueiro de gente,
Sim, são como formigas, mas desordenadas, dispersas,
Cada um por si, e demagogas, diferente da bola que vagueia,
Que zela por todos, por tudo, sem ganância, sem avareza,
Alheia as travessuras medíocres das suas criaturas pensantes.
Criaturinhas rebeldes essas, avessas ao natural,
Rebeldes por causas injustas, desumanas, embora humanas,
Enormemente disformes nessa individualidade imprópria,
Uns guardando mais que seus invernos necessitarão,
Enquanto outros ficam sem comer em pleno verão.
Já podes retornar ao espaço, olhando a bola ao longe,
Podes até rir, gargalhar, em deboche, é merecido,
Tamanho o ridículo dessa soberba pobre, medíocre,
Que o pensar humano não percebe, nem considera
Mostrando a ignorância que comparativamente somos.