O MENTIROSO E A MENTIRA
O MENTIROSO E A MENTIRA
Carlos Roberto Martins de Souza
A mentira é filha querida da inverdade
Encanta sutilmente quem dela faz uso
Enfeitiça suas vítimas com crueldade
Ela deixa o homem honesto confuso
Ela vai até às últimas consequências
E faz tudo para conseguir o que quer
Vive escondida atrás das aparências
Sem se importar com o que der e vier
Normalmente consegue o que almeja
A custa da maldita e temível falsidade
Disfarçada com o engano ela corteja
Conta histórias falsas com facilidade
Ela com a abstração própria da ilusão
Ela engana e ilude de forma a pessoa
De forma propositada pensada ou não
O certo é que qualquer mentira magoa
Há quem viva as suas vidas inteiras
Sobre a égide destruidora da mentira
Assim se sentem úteis nas asneiras
Na hora da verdade o sujeito se vira
A mentira é o ato de mentir deliberado
Num gesto como quem fala a verdade
Ela não passa de engano propositado
De um sujeito que abusa da liberdade
O mentiroso planeja cada ato infame
E nos mínimos detalhes ele capricha
Para evitar dar aquele seu vexame
O enganador seu veneno esguicha
Mentiroso não tem vergonha na cara
Faz disso um modo de sobrevivência
O mentir para o mentiroso é uma tara
Ele não consegue fazer abstinência
O mentiroso é discreto e meticuloso
Não fala de sua vida nem aos amigos
A esses ele mente e é escandaloso
Sem se importar com os tais perigos
O seu modo de pensar, de agir e falar
É totalmente desvirtuado do contexto
Fala muito sem segurança demonstrar
Ele usa a sua mentira como pretexto
Faz parte de sua essência manipular
Seduzir o ouvinte sem nenhum pudor
Até a seu próprio mentiroso enganar
Pois o ardiloso ama provocar o terror
O mentiroso é o mais natural possível
Ele encena a mentira vezes sem conta
Antes de usar para seu intento risível
Ele calmo finge ser uma barata tonta
A tomada da tal decisão é deliberada
Para a alcançar o mentiroso pretende
Vender a dignidade de forma velada
Para alcançar aquilo que ele defende
A mentira tem como finalidade básica
Atingir seus fins seja de que forma for
Sem pôr em risco a mentira clássica
Muito menos o mentiroso seu fiador
A mentira é de uma cegueira mortal
Ela engana até mesmo o mentiroso
É uma oportunidade burra e desleal
De fazer do sujeito um tolo e curioso
Ele pensa obter fins lucrativos na vida
Assim sem grandes esforços mentais
Basta usar a falta de vergonha fingida
Ir para a luta que ele abandona jamais
A mentira é uma coisa bem pensada
Do mentiroso preparada com minúcias
Tem a enganosa e tem a elaborada
E aquelas imaginadas com astúcias
Há quem viva da mentira e faz alarde
Como se fosse mentir o seu emprego
Das nove da manhã às cinco da tarde
Ele mente e faz isso com muito apego
O mentiroso não precisa picar no pé
Mas ele está sempre atento a tudo
Diante de qualquer tema ele leva fé
A linha coça ele jamais ficará mudo
O mentiroso é canalha e sem noção
Não sofre do tal sentimento de culpa
Mentir é viver uma grandiosa emoção
Para ele é duro o pedido de desculpas
O mentiroso alcança a sua ascensão
Quanto mais anos conseguir mentir
Se depender da sua repercussão
Vai fazer até festa para se divertir
O mentiroso é auspicioso e promissor
Quando executa bem a sua pobre arte Dissimulado na mentira atrai o horror
Ele só quer fazer sozinho a sua parte
Um mentiroso se acha um intelectual
Ele tem preferência por coisas banais
Faz de sua vidinha um macabro ritual
Segue à risca sem se desviar jamais