ABRIGO

Certas ocasiões não pedem festa

Com todo esse alvoroço e gritaria,

Mas somente um tipo de paz honesta

Que te leve por esse mar de calmaria.

Basta aquele sorriso contemplativo

Perde-se em si mesmo por pura alegria,

Semelhante a um senhorzinho altivo,

Que ao passar pela janela da vizinha,

Estufa o peito e ergue o corpo vivo

Para arrastar o pé que ainda caminha,

E vai sorrindo na penosa empresa

Pois sua pose galante convinha

Por fim, de novo, para sua surpresa

Nem sinal da vizinha aparecer

Mas sorri, porque amanhã, com certeza!

Às vezes, é preferível o anoitecer

Do que a luz e o alto som da manhã.

E no fim, é esse pequeno prazer

Que nos concedemos após o afã,

Que será serenamente relembrado

Na passagem dessa vida tão vã.

Uma conquista não merece teu brado

Antes de por ti, ser admirada

No maior silêncio contigo guardado.

E se eu soubesse disso em minha estrada...

Mas viva! Se aproxima o abismo escarpado

Porém, antes de tudo, lembre-se, tu és tua morada.

Felipe Barroso
Enviado por Felipe Barroso em 22/08/2022
Código do texto: T7588088
Classificação de conteúdo: seguro