ABRIGO
Certas ocasiões não pedem festa
Com todo esse alvoroço e gritaria,
Mas somente um tipo de paz honesta
Que te leve por esse mar de calmaria.
Basta aquele sorriso contemplativo
Perde-se em si mesmo por pura alegria,
Semelhante a um senhorzinho altivo,
Que ao passar pela janela da vizinha,
Estufa o peito e ergue o corpo vivo
Para arrastar o pé que ainda caminha,
E vai sorrindo na penosa empresa
Pois sua pose galante convinha
Por fim, de novo, para sua surpresa
Nem sinal da vizinha aparecer
Mas sorri, porque amanhã, com certeza!
Às vezes, é preferível o anoitecer
Do que a luz e o alto som da manhã.
E no fim, é esse pequeno prazer
Que nos concedemos após o afã,
Que será serenamente relembrado
Na passagem dessa vida tão vã.
Uma conquista não merece teu brado
Antes de por ti, ser admirada
No maior silêncio contigo guardado.
E se eu soubesse disso em minha estrada...
Mas viva! Se aproxima o abismo escarpado
Porém, antes de tudo, lembre-se, tu és tua morada.