PROSAS DA VIDA

PROSAS DA VIDA

Carlos Roberto Martins de Souza

A vida do povo na roça é muito dura

É tudo muito difícil e não tem moleza

Acordar cedo tomar café de rapadura

Viver no campo é mesmo só dureza

Água limpa corre na bica de madeira

O sofá é de bambu ou até de angico

A ducha é a bacia não tem geladeira

Lá o sanitário é o temeroso penico

Pobre na roça não tem nenhum luxo

O matuto não sabe o que é vida boa

O que produz é para encher o bucho

Ele planta seu milho dele faz a broa

Na bica se lavava o penico e o prato

A roupa de cima e também a cueca

O arroz o feijão o cachorro e o gato

Limpava o rosto e tirava a meleca

No pé a frieira coça mais que urtiga

Na cabeça o terrível piolho passeia

Na boca a perereca que mal mastiga

Na garganta o pigarro que aperreia

Tem a arruda contra o tal quebranto

Tem a velha e atenciosa benzedeira

Sala com oratório e a vela no canto

No fogão a velha gamela de madeira

Na carteira tem um titulo de eleitor

Embrulhado num pedaço de jornal

Com ele o matuto elege o traidor

Achando que o gesto não faz mal

Atrás da orelha o cigarro de palha

Dentro do bolso a caixinha de rapé

O fumo de rolo seu cheiro não falha

Tem canivete para cortar unha do pé

Na bica se conta os causos da roça

Também faz-se juras de amor a rosa

Uns estão bem e outro numa fossa

A coisa acaba quando para a prosa

Carlos RMS
Enviado por Carlos RMS em 08/08/2022
Reeditado em 20/08/2022
Código do texto: T7578120
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