HOMEM DE MUITAS VIDAS 24💠
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Hoje a noite se fez serenata
Pro nada que hei de ser
Ouvia a voz
Muitas vidas
Sem saber, camufladas, e apenas uma eu vivia
Aprisionada na canção que eu ouvia
Quantas vidas eu hei de ter?
Camaleão
Da noite pro dia
A canção me desafia
E me embala, até o amanhecer em que serei outro em nova vida
Tento me buscar porque vivo
Quase existir, persisto
Em meio a ilusão das cores
Porque sei que de viver, insisto
Sob a sombra dessas dores
Com meus medos e temores
A relva verde é esverdeada
Assim como o céu azul
Hoje subi um pouco mais
E depois de emudecido
A grande angular dos olhos alcança
Apenas contemplei-te
Vida
Volto a tingir o espaço
Na imensidão que clama
De luzes, de sangue, de chamas
Desejei ter uma silhueta de homem
Gerado no corpo de uma mulher
Imune a velhice iminente
A música ouço desde que a criança adormeceu calmamente
Uma voz - sigilo - tão raro
Que ouvida à tempo
Burlaria as horas
Melodia vem da alma
Dum sem fim de batalhas
Coração moldado feito homem
Duro feito ferro
Etéreo feito espaço
E não se lembra mais da perfeição
De si mesmo feito humano
Nem dos erros e embaraços
De minhas muitas vidas cantadas
Morri de diversas vezes
Por tudo, por nada
E muitas vezes me chamaram
Insólito
Mesmo sendo ser sem ser nome
Não reconheceriam um poeta
Mesmo que na sua face encoberta
Estivesse escrito:
Homem
Secreto e emergente
Do luto, pra vida.
02/07/2022
13:37hrs