A BARATA
À tarde caminho solenemente até a cozinha.
Ai! Socorro! É uma barata. Que c oisa feia!
Vede! Ela está ali escondida. Notei-a
Vindo ao meu encontro quando pra cá eu vinha.
“Vou mandar" tapar estes buracos...
"- Digo." Ponho-me a gritar. Subo à mesa
E vejo-a em minha direção, infecta e obesa...
Sua purulência nauseabunda me dá ascos!
"Pego de um" chinelo. "Alvoroços faço". Quem tenta
Matá-la? Em vão, minha histeria aumenta.
"Que ventre" produziu tão asqueroso inseto?!
"A Consciência" Política é esta barata!
Por mais que a gente faça, é inútil que ela não bata
De dois e em quatro anos na porta do nosso teto!
TEXTO INTERATIVO:
O MORCEGO
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
"Vou mandar levantar outra parede..."
— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
Autor: Augusto dos Anjos foi um poeta brasileiro, identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano.